Monday, September 02, 2013

 

Francisco

Francisco era o nome do jovem de etnia cigana foi encontrado a 11 de julho de 2005 sem vida numa das ruas da Zona Oficinal e Artesanal de Carrazeda de Ansiães. Era membro de uma família de mais de duas dezenas de irmãos... todos criados na mendicidade... “à balda”... obedecendo às mais primitivas leis da natureza ... quem é rijo, safa-se. Aprendeu nas malhas da miséria a lei do desenrasca de forma a sobreviver: mostrava a cara necessitada e de "desgraçado da vida" sempre que estendia a mão para a esmola. Era difícil olhá-lo nos olhos e resistir.
Orgulhava-se da égua da família e o nascimento de um potro era o acontecimento mais importante da sua vida. Garboso cavalgava-a pelas ruas da vila, ou segurava as rédeas, sentado na carroça, como se soubesse gritar a expressão do filme "I`m the King of the world!"
Na escola, Francisco era a simplicidade em pessoa, sempre de aspecto andrajoso, sujo e de "ranho" comprido a sair-lhe do nariz, gaguejava monossílabos se interrogado e, embora só se se pudesse aproximar dele tapando o nariz, tal era o cheiro nauseabundo que exalava, despertava a simpatia de todos. As horas mais felizes eram as do recreio: tomava-se o leite escolar e respirava-se o ar da liberdade.
Festejava os sucessos com uma alegria genuína esticando bem o peito para fora e sorrindo de boca escancarada. Reagia às pequenas injustiças, as que compreendia, de modo exuberante, profundamente sentido: emudecia fulo ou manifestava-se com poucas palavras esticando bem o dedo acusatório. Em caso de alguma maldade, se era chamado à atenção, baixava a cabeça envergonhado ou então encolhia os ombros em tom de desafio.
Conseguiu aprender a desenhar e a conhecer todas as letras, porém juntar mais que duas revelou-se uma tarefa impossível. Talvez nunca tivesse sentido também muito interesse em aprender a ler, pois o seu mundo se bastava à barraca, aos cavalos, a um bocado de pão e a muita liberdade.
Filho da miséria e do desleixo social encontrou a morte de uma forma miserável. Francisco era de todos os mortais que conheci o que menos merecia essa “sorte madrasta”.

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