Monday, September 02, 2013
Francisco
Orgulhava-se da égua da família e o nascimento de um potro era o acontecimento mais importante da sua vida. Garboso cavalgava-a pelas ruas da vila, ou segurava as rédeas, sentado na carroça, como se soubesse gritar a expressão do filme "I`m the King of the world!"
Na escola, Francisco era a simplicidade em pessoa, sempre de aspecto andrajoso, sujo e de "ranho" comprido a sair-lhe do nariz, gaguejava monossílabos se interrogado e, embora só se se pudesse aproximar dele tapando o nariz, tal era o cheiro nauseabundo que exalava, despertava a simpatia de todos. As horas mais felizes eram as do recreio: tomava-se o leite escolar e respirava-se o ar da liberdade.
Festejava os sucessos com uma alegria genuína esticando bem o peito para fora e sorrindo de boca escancarada. Reagia às pequenas injustiças, as que compreendia, de modo exuberante, profundamente sentido: emudecia fulo ou manifestava-se com poucas palavras esticando bem o dedo acusatório. Em caso de alguma maldade, se era chamado à atenção, baixava a cabeça envergonhado ou então encolhia os ombros em tom de desafio.
Conseguiu aprender a desenhar e a conhecer todas as letras, porém juntar mais que duas revelou-se uma tarefa impossível. Talvez nunca tivesse sentido também muito interesse em aprender a ler, pois o seu mundo se bastava à barraca, aos cavalos, a um bocado de pão e a muita liberdade.
Filho da miséria e do desleixo social encontrou a morte de uma forma miserável. Francisco era de todos os mortais que conheci o que menos merecia essa “sorte madrasta”.