Wednesday, April 18, 2007

 

Sobre o Paulo de Carvalho

Conheci o Manuel Paulo de Carvalho há uns trinta anos. Eram anos de fortes convicções políticas, de grupos barricados nas certezas ideológicas, dos grandes ideais. O Paulo trazia África nos olhos e na alma. Era uma nova mentalidade, feita de largos horizontes, fraterna, contraditória com o pequenez atávica carrazedense. Uma personalidade aberta à diferença, contagiante, entusiástica, afectuosa. No seu “Planalto” conseguiu congregar os diferentes tipos da sociedade de Carrazeda. Confraternizaram homens e mulheres de direita e esquerda, conservadores e progressistas, pobres, remediados e mais abastados, ainda que por vezes em espaços e tempos perfeitamente definidos. “Que grandes saudades meu irmão”! A noite era só para muito poucos com a tertúlia regada de “petiscos” e bebeduras. Uma escola de vida. Discutiram-se os problemas locais, a política, o futebol, usou-se a má-língua: Iniciaram-se grandes e heróicos projectos desde o futebol à rádio. Principiaram cumplicidades que perduraram nos anos. Quem quiser fazer história carrazedense das últimas décadas não poderá esquecer o “café Planalto” do Paulo.
O futebol, uma das paixões. O campeonato inter-aldeias foi um fenómeno de participação entusiástica das gentes do concelho. A seguir a reactivação do clube de futebol com recurso exclusivo a jogadores do concelho (um dos poucos momentos em que se jogou com amor à camisola); sobrevivendo com verbas exclusivas da venda dos bilhetes, sorteios, bailaricos (o de Fim-de-Ano foi um sucesso tão estrondoso como surpreendente). Depois o futebol de cinco. Dirigente e treinador contribui decisivamente para que logo no primeiro ano o Futebol Clube de Carrazeda suba à primeira divisão distrital. O último jogo da subida meteu Zíngaros e encheu o estádio (que grande festa pá!). Dirigente carola, financia lanches e transportes a expensas próprias. Treinador empenhado, alinhava tácticas em longas conversas que se prolongavam até altas horas. Recorda-se a frontalidade desportiva e tom paternal com que tratava todos desde o mais jovem ao já quase veterano, tanto confrontava abruptamente um atleta como o ia convencer a casa de que era fundamental na equipa.
O Pombal. Outra paixão. Um orgulho e um refúgio afectivo e telúrico. Os olhos brilham-lhe quando fala da sua associação, das termas, das suas gentes. É à aldeia que regressam as conversas que partilha e a ela volta nos momentos mais complicados.
A vida prega-nos grandes partidas e com ele foi pródiga. Numa terra sem grandes oportunidades, ele nunca deixou de procurar a sua: Teve vários negócios de restauração, foi patrão e empregado, emigrou, vendeu carros, foi desde agricultor a delegado de propaganda médica, tentando sempre de forma honesta ganhar a vida. Até que a vida lhe pregou uma grande rasteira. Quem conhece o Paulo sabe que ele não é de desistir. E se apenas precisar de uma pequena ajuda? E se ela depender de nós? Vamos proporcionar-lhe isso.

Um grande abraço Paulo!

José Alegre Mesquita
Abril de 2007

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