Wednesday, December 13, 2006

 

Os meus Heróis

Este meu primeiro texto é dedicado a uma mulher. Trata-se de alguém que possivelmente não chegará a saber o que penso dela e o valor que dou à sua missão. Possivelmente não sabe ler, com tudo o que isso lhe terá trazido de inconveniência.
Tem como primeiro nome Piedade mas, não acredito que alguma vez tenha pedido piedade para ela. Numa época de grandes privações que aquela por que passou na sua vida activa, conseguiu parir 19 (dezanove) filhos. Conjuntamente com o seu marido de apelido Morais sustentou-os até crescerem e poderem voar. Hoje estes, dispersam-se pelo mundo seguindo o exemplo de trabalho dos pais caldeado pelo sacrifício porque todos passaram até á largada.
Sem recursos herdados foi apenas pelo esforço que brotou este exemplo de vida.
Nas circunstâncias que se depreendem pergunta-se: que seria possível pedir mais! Ou por outras palavras, haverá ou caso parecido, de capacidade, de organização e de coragem! Não consta que tenha roubado. Não consta que tenha pedido. Não consta que tenha tido a sorte e a ventura do seu lado.
Eu que sou dado á reflexão faço este contraponto. Esta família, ao que trabalhou, se em vez de ter gasto as energias a sustentar tanto filho, tivesse amealhado dinheiro, teria hoje a maior fortuna. Seriam venerados pelos bajuladores, passeariam o seu cãozinho de luxo, pelo passeio ao fim da tarde, frequentariam a confeitaria na hora do chá, eram membros das associações filantrópicas, seriam convidados a segurar o pálio e eram com certeza considerados pelo poder.
A realidade é outra bem diferente. A riqueza que produziram parece não representar muito para o país que dela se aproveita.
Assim numa hora em que sei que a doença da Sra. Piedade Morais a tem praticamente retida em casa e embora desconheça em pormenor as circunstâncias em que tenta expurgar a doença, daqui vai a minha admiração pelo seu exemplo de dignidade e distinção entre os carrazedenses.

Hélder Carvalho

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